sexta-feira, 23 de abril de 2010

De pescarias com meu pai

Desde os doze anos que vou pescar com meu pai, Sr. José S. Fontoura!
A primeira foi no rio Ijuí, no passo da balsa, dela ficou apenas o conhecimento das saracuras, que eu nunca tinha visto. São pretas, do tamanho de uma galinha gordinha e com as pernas bem curtinhas! Isso para mim foi muito engraçado, pois para incomodar minha irmâ, que era magrinha, pernas muito compridas naquela idade, nós a apelidamos de saracura, o que a enfurecia, para nosso prazer!
Depois foram outras, íamos com o caminhão cedido pela prefeitura que dava o óleo, na volta tinhamos que trazer uma carga de areia como pagamento, bom negócio pros dois lados!
Uma ocasião, pescaria feita, estávamos em um corredor palhando areia com pás de concha pra carroceria do caminhão, um International valente como ele só, o motorista era o Augusto que eu considerava o melhor de todos. Era inverno e eu estava com um blusão de lâ bem grosso feito por Dª Mimi, minha mãe, mas a atividade de palhar areia esquenta o corpo rápidamente, assim tirei o blusão e pendurei na cerca. Carga feita embarcamos, eu na carroceria com a peãozada, dali a pouco comecei a sentir frio, aí me lembrei do blusão, bato na cabine, o caminhão para, relato o ocorrido, mas muitos quilômetros percorridos, não dá pra voltar! Meu consolo foi pensar que aquele blusão deve estar aquecendo algum peão de estância nesses invernos gaúchos!
O entusiasmo de seu José com as pescarias foi tanto que mandou construir uma canoa, cinco metros e meio de comprimento, feita de pinheiro nativo (araucária) tábua inteira sem emendas nem nós, fora da água um peso medonho, dentro dágua leve como uma pluma e fácil de manobrar, cabiam 5 homens mais a tralha folgado. Eu era encarregado do cuidado e manutenção do barco, cobrir com lona e tábuas quando repousava no estaleiro do pátio, revisar e calafetar na preparação para uma pescaria.
Para calafetar usávamos piche, que eu derretia numa lata. Colocava uma bucha de estopa nas frestas e cobria com piche quente dos dois lados, não entrava uma gota sequer! Até que um dia meu pai me avisou, dá uma revisada na canoa que sexta vamos saír pro Guaçuí pescar!
Revisei, vi que havia alguns lugares para calafetar, sexta de manhã acendi o fogo coloquei umas pedrinhas ao redor, posicionei a lata e esperei o piche derreter, mas me distraí, o piche esquentou demais e pegou fogo, na tentativa de apagá-lo virei a lata, uma bolota em chamas de piche saltou e caiu no peito do meu pé! Desesperado, com o pé em chamas, corro pra torneira do pátio, meu pai vê e grita pra eu parar, pega um pano e abafa o fogo apagando-o. Aí me explica , se eu tivesse jogado água teria sido muito pior!
Muita dor e uma bolha enorme resultam da queimadura, Dª Mimi diz, não vai dar pra esse menino ir junto desse jeito! Ao quê imediatamente retruco, não tá doendo nada mãe, dá pra ir sim! E vou, com um pé calçado e outro de chinelo de dedo por causa da bolha.
As tantas da viagem, o caminhão para num colono que tem alambique, pra comprarmos vinho, cachaça , queijo e salame colonial. Conversando o gringo vê o meu pé queimado e diz, tenho um unguento que cura queimadura pra já! Vai lá pra dentro e retorna com um negócio escuro e de cheiro forte que passa no meu pé. Como que por encanto a dor some rapidamente e, no outro dia a bolha já está secando, incrível!
O rio Guaçuí! Não era o maior, nem o mais largo, era um lageadão, fundo de pedras, muitas corredeiras e de quando em vez um poço, rio limpo dava jundiás bonitos e traíras grandes à profusão. Depois que o descobrimos não íamos a nenhum outro!
O acampamento era no Passo da Lage, um passo que ao invés de ponte tinha uma lage com tubos de cimento que permitiam o fluxo das águas, quando chovia muito a água crescia e passava por cima da lage. Foi ali, logo abaixo da lage que eu e seu José pegamos 11 jundiás com um toco de espinhel com 9 anzóis! Não é mentira não!
Foi asim, iscamos os 9 anzóis e, ao escurecer, colocamos o espinhel na água...
continua depois......

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