sábado, 7 de junho de 2014

Vô Bento

Eu devia ter uns 4 ou 5 anos quando Vô Bento começou a me levar junto com ele, às compras, na cooperativa dos funcionários (ele era funcionário da prefeitura), ao futebol, era torcedor do "alvi-rubro" da baixada, o São Luiz de Ijuí, à igreja nos dias de festa, era um dos assadores dos churrascos comunitários da Igreja Metodista.
Eu amava aquele homem enorme (nos meus tenros anos via-o como o maior homem da terra!), tranquilo, de poucas palavras, mas que denotava um grande carinho pelo seu primeiro neto: EU!
Lembro dele na CEPASMI (a cooperativa que ele ajudou a fundar) conversando com os colegas e me mandando responder as perguntas (como ele tinha combinado comigo antes) e dizia: "E o Menegheti o que é?" (Ildo Menegheti, na epoca governador do estado) Eu inflava o peito e dizia: "É um borrabotas!" , o que causava gargalhadas gerais da platéia. O Vô era do PTB antigo, trabalhista de cruz na testa, todos os adversários do seu partido eram "uns borrabotas".
Do meu avô herdei o temperamento, o queixo e as orelhas (enormes), lembro minha avó reclamando do vô que ele era o homem mais descansado da terra, ela uma mulher enérgica contrastava com a calma e a tranquilidade dele. Ele era calmo, mas ai de quem pisasse no pala dele, aí o homem virava um tigre! Tem até um lugar, no interior de Santa Rosa, chamado Passo do Bento, onde esse homem calmo deu um corretivo num fanfarrão que quiz agredi-lo, depois da surra de facão, passaram a chamar o lugar desta forma.
O fato de eu ser colorado (São Luiz de Ijuí e S..C. Inernacional de Porto alegre ) é influência direta do Vô; ele me levava pra ver os jogos, no intervalo comprava um cachorro quente composto de pão, uma linguiça e  um "fiapo" de mostarda (daquela bem forte e ardida) que até hoje servem ali na baixada. Devo confessar que com a idade que eu tinha, o ponto alto do jogo era o cachorro quente! Mas lembro que, além do clássico São Luiz x Gaúcho (tricolor como o Grêmio),havia inimigos figadais, recordo de dois, o Elite de Santo ângelo (minha terra natal) e o Nacional de Cruz Alta, muitas vezes os jogos terminando em batalhas campais, tal era a rivalidade.
Já os churrascos da igreja tinham um sabor especial, meu avô gostava de costela com granito, chamava de ponta de peito, que é aquela gordurinha firme grudada na carne e que bem tostada, torradinha, é uma delícia. O churrasco era assado em uma vala aberta no pátio da Igreja, os espetos de madeira cravados no chão com peças inteiras de carne, toras de madeira de lei queimando, faziam evolar o cheiro característico da carne assando, lembravam os antigos rituais biblicos do Velho Testamento.
Ele torrava um pedacinho do granito e me dava pra comer,eu gostava mesmo! Porém meu avô morreu novo, os  hábitos alimentares geraram o colestero, problemas nas artérias e no coração.
Deixou saudade!