quarta-feira, 23 de março de 2011

domingo, 20 de março de 2011

O jacaré

Outra das pescarias dos seu José, do tempo em que eu nem era nascido, a  mais ou menos 60 anos atrás.
A Cia. Souza Cruz, que trabalhava com fumo e cigarros, na entressafra dava férias coletivas a seus funcionários, e, era nessas oportunidades que eles aproveitavam pra ir, em um grupo grande, pescar e caçar.
Foram numa dessas fazendas das missões, onde já eram conhecidos e tinham um trato com o capataz.
Assim que chegaram, foram recebidos pelo cidadão, que, rente como pão quente, deu adeus a todos e cobrou: "Onde está o remédio?"
Imediatamente sacaram um garrafão cheio, onde brilhava, olorosa, a pura caninha de alambique, que entregaram ao, já sorridente, cidadão.
E o índio não se fez de rogado! Sacou a rolha de imediato, tomou um gole murrudo e passou o garrafão adiante, cada um tomando o seu. Tava liberada a entrada na fazenda!
Fizeram as coisas de praxe, acamparam, alguém ajeitou uma bóia, comeram e foram providenciar a pescaria.
Na boca da noite, com a canoa, colocaram redes, esperas, espinhéis e pescaram um pouco, depois, cansados foram dormir.
No dia seguinte, assim conta seu José, foram com a canoa fazer a revisão. Seu José na proa, ia erguendo a rede e tirando os peixes capturados, porém, lá pelas tantas, começou a encontrar os peixes mastigados ( ficavam chatinhos como se alguém tirasse todo o sumo do bicho)  e furos na rede, alguém disse, tem jacaré por aqui.

Seguiram revisando, quando perto do barranco o bichão se apresentou, abriu aquela boca enorme e roncou grosso ( seu José abre os braços imitando a boca do jacaré e imita o som do ronco) assustando os pescadores. Foi aquela gritaria! Acorreram os demais, espingarda em punho, voltam com a canoa pra perto do barranco e seu José puxa a rede pra cima.

Incomodado em seu desjejum, o jacaré abre o bocão, ameaçando os pescadores.
Do barranco, alguém alveja o sáurio bem na goela. Depois de dar umas rabanadas, o jacaré morre e, com esforço é arrastado pro barranco, medem-no, é enorme, o papão amarelo.
Ignorantes de que o bicho é comestivel, abandonam a carcaça, sem tirar uma lasquinha sequer da carne branca e saborosa!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Minha adoiada!

Matheus!
Tê tu té vó?
Larga essa cachorra!
Eu tô bincando com a Tigada!
O vô tá te chamando lá no carro, vai lá. Ele caminha até a porta do carro.
Tê é vô Macoso?
Olha que eu trouxe pra ti e pra vó.
Ahhh! Chocoiate!!! Vó,vó, o vô Macoso toxe chocoiate pa nós!
Que que a gente diz?
Bigado vô. Vô eu deixo você namoiá a vó!
Tá bom, diz pro vô ouvir; fogão, fogo, foguinho...
Fogão, fogo, foguinho
É, não deu certo, diz então, eu me perdi, tô perdidinho
Eu me peidi, tô peididinho  (risos gerais da malta)
Como é o nome dos teus coleguinhas da escolinha?
Lá na minha escoinha tem a Maía (Maria), o Quixu (Cristian), a Andéia (Andréia); a Pofe diz pa gente não í na uúa (rua) poique é muito peigoso!
Vó, vó, você é minha adoiada!
Você também é meu adoradinho!
Vó...
Vó...
Vó...
O quê?
Poi favoi, vózinha, me dá um poco de efi (refri) no meu copinho de vaquinha?
Me dá, poi favoi, vó?
Tá bom, vou dar!
Matheus, recolhe tuas roupas do chão e põe no cesto pra lavar!
Não...
Porquê?
A mãe não deixa! (pura mentira!)
Não é verdade! Vá logo juntar ou eu pego o chinelo!
Não quéio isso vózinha (e abraça a vó) não faz isso.
Porquê não?
Ah vó, poquê eu tô dengoso!

  

quarta-feira, 9 de março de 2011

As abelhas (continuação)

..........Teria o Flávio morrido? A julgar pelas minhas picadas (umas sete ou oito) que foram poucas mas muito doloridas, ele poderia sim ter morrido, pois ficou muito mais tempo sob ataque do que eu, fiquei livre delas por ter corrido a uma distância fora do raio de ação das abelhas.
Como elas tinham ido embora, a porta do jipe foi aberta e eu vesti um moletom com capuz, que fechei bem ao redor do rosto e me enrolei em um cobertor pois precisava recuperar meus tarecos de cozinha e encontrar o Flávio (vivo ou morto). Desci para o acampamento chamando, aos gritos, pelo Flávio, e ele não respondia!
Na direção da sanga, pelo meio do mato, depois de uns pés de unha de gato, avistei um trilho formado por roupas do Flávio, camiseta, calça, cueca, calçado, meias, então o barranco e a sanga. Ele se jogou na água, pensei. Olhei por ali, nenhum movimento, voltei pro acampamento, as abelhas enfurecidas tentando me picar de novo, comecei a juntar os tarecos pra ir acampar em outro lugar, quando vejo o Flávio voltando recolhendo e vestindo as roupas que estavam espalhadas, com as costas e a cabeça que pareciam um paliteiro de tanto ferrão de abelhas. Saímos dali o mais rápido possível e acampamos uns quinhentos metros abaixo, bem longe das danadas. Perguntei a eles o motivo do ataque. Chegaram a conclusão que ao estacionar o Toyota o pneu ficou bem sobre a raiz do toco onde o enxame morava, a vibração do motor diesel  irritou os insetos que atacaram o primeiro ser vivo que apareceu, no caso o primeiro a descer, o Flávio. Os outros dois ao ver o ataque, e sendo alérgicos, se entocaram na cabine e com os gritos do Mauro de que tinham que sair dali sem demora, o Daniel aprendeu a dirigir na marra e saiu de ré coxilha afora.
Mas tudo isso não foi nada!
Escolhido o novo local do acampamento, armei minha velha barraca, baixei os tarecos de cozinha, desci meus caniços e linhas de pescar e fiquei esperando os demais fazer o mesmo..... e nada!
Aí perguntei, alguém trouxe alguma coisa pra cozinhar ( iamos ficar três dias)? Nada.
Alguém troxe material pra pescar, linhas, iscas? Nada.
Vão dormir aonde? Flávio e Dani responderam que dentro do Toyota, Mauro não tinha onde dormir.
Ofereci um dos quartinhos da Yanes (tem dois), e fui fazer um arroz de puta pobre (com salame cortado em rodelas), almoçamos e fui tirar o meu cochilo de praxe.
Quando acordei, pensei, vou pescar um pouco, mas cadê meu material de pesca, só achei os piores caniços e linhas, o jaguaredo tinha carregado tudo! Inclusive as iscas!
De noite cada um se ajeitou pra dormir, às tantas senti movimento perto da barraca, dei um a espiada, era o Mauro enrolado no poncho sentado num toco perto do fogo(descobrimos depois que ele tinha medo de aranha, por isso não dormia em acampamento).
Resumindo, ficamos os três dias, tomando café preto, comendo arroz de puta pobre e fritamos os jundiás que conseguimos pescar, voltamos pra casa de mãos abanando e o Flávio meio atordoado de tanta ferroada que levou!
A Marta(mulher do Flávio) parou de contar quando chegou perto do 40° ferrão que tirou das costas e da careca do marido. O bom de tudo, disse o médico que o Flávio consultou, é que já que você não morreu das ferroadas também vai ficar, pro resto da vida, livre de ter reumatismo!

As abelhas

Todos sabem que gosto muito de pescar, e, para mim, pescar é um ritual de limpeza do corpo e da alma, pois o contato direto com a natureza, e quanto mais natural a natureza, melhor, só me faz bem!
Em um verão destes, os professores todos de férias, combinamos uma pescaria, o Maurinho Notargiácomo, Eu, o Flávio Krampe e o filho dele Daniel. Fomos a uma fazenda que era (eu acho) capataziada pelo tio do Mauro e que tinha o rio Piratinim passando por dentro das terras deles.
A aventura já começou com o veículo escolhido para a viagem; o Flávio havia ganhado de um tio lá dele um jipe Toyota de 1900 e antigamente, azul e amarelo (foi o 1° Toyota do RS) e que precisava (urgentemente, nós não sabiamos disso) de manutenção. Por ser rústico e com tração nas 4, gostamos da idéia, porém (sempre há um porém) tinha uma folga de duas voltas na direção (não era folga, era um feriadão completo).
Então, estávamos indo tranquilamente pela BR quando o jipe embestava pra contramão, o Flávio, de motorista, girava o volante enlouquecidamente até que ele "pegava" de novo e conduzia de volta a pista certa, aí ele embestava pro acostamento e era aquela loucura pra não cairmos do barranco, resumo, uma viagem que era pra ser de 30min, levou duas horas. A foto ao lado é de um jipe do mesmo modelo, mas em ótimo estado (só pra ilustrar). Hoje o jipe, de mecânica e elétrica, tá tinindo, falta a lataria ainda.
Finalmente chegamos na fazenda, depois de parar em dois bolichos pra uma gelada, que o Maurinho não resistia, fomos muito bem recebidos pelo tal tio que deu uma dica: "em vez de ir no rio, vão no sangão ali ó (indicando a direção com o dedo), que tá dando cada jundiazão de dois palmos". Fomos.
Perdemos a entrada pro tal sangão, eu desci pra ver os pesqueiros pela beirada sanga, enquanto eles faziam a volta pra acampar uns 300m pra cima. Fui subindo a pé, espiando e identificando os melhores lugares, no meu julgamento, pra pescar mais tarde. Enquanto isso o Toyota fez a volta e desceu uma coxilha em direção do mato, um pouco acima de onde eu estava, sumindo da minha vista.
Continuei caminhando e dali a pouco vejo o Flávio, com a camiseta na mão, correndo feito um louco, girando a camiseta acima da cabeça e gritando: "Abelha, abelha!".
Como não sou de me assustar com pouca coisa, continuei caminhando em direção ao acampamento, onde estava o jipe. Umas duas vezes o Flávio cruzou por mim daquele jeito, gritando:"Abelha, abelha"; aí eu falei pra ele: "Tá lôco, meu, para de correr e gritar e me ajuda a montar o acampamento!".
Fui no jipe, peguei a tarecama de cozinha que eu havia levado e fui fazer um fogo pra um mate, estranhei que o Mauro e o Daniel estavam trancados dentro do jipe e não saiam de jeito nenhum; e o Flávio correndo e girando a camiseta: "Abelha, abelha!", gritava, pensei, tem lôco pra tudo nesse mundo.
Ajeitei a trempe, catei umas lenhas, vi quando o Toyota saiu de ré pra longe, em cima da coxilha, peguei água na sanga, notei que uns bichinhos passavam voando a milhão zunindo,  e risquei um fósforo pra acender o fogo........., aí uma abelha me picou no pescoço! E eu, no instinto, cometi o erro de dar um tapa e depois pisar com raiva, na agressora. As abelhas africanizadas (européia+africana) quando esmagadas emitem um cheiro que permite ao resto do enxame, localizar exatamente (como um GPS) o incauto que matou a coleguinha delas e, então, elas atacam em massa.
Foi a minha vez de correr, o Flávio tinha sumido pra dentro do mato, então corri em direção do Toyota gritando: "Abelha, abelha!". Quanto mais eu corria em direção ao veículo, xingando e falando pra eles abrirem a porta (as abelhas ferroando enfurecidas), mais eles recuavam de ré e faziam sinal que não, até que uns 300m do mato eles pararam. O Mauro abriu uma frestinha da janela e disse: "Tinha uma nuvem de abelhas desse tamanho (os braços bem abertos), em cima de ti, e nós somos alérgicos a picada de insetos. Eu todo encaroçado e brabo, xinguei mais um pouco. Depois ficamos preocupados, será que o Flávio tinha morrido?
Continua.....


terça-feira, 1 de março de 2011

Meu melhor texto

Toda vez que entro no blog, ou pra escrever ou simplesmente para ver as estatísticas faço uma constatação.
Já escrevi sobre amores, sobre esportes, sobre as pescarias com meu pai, vez ou outra reproduzo textos de outras pessoas (normalmente mais talentosos do que eu).
Pra mim as mais deliciosas são as reminiscências das pescarias com o "velho" e algumas pescarias minhas.
Mas o que eu queria dizer é que o texto mais lido do blog não é meu!
É a Teoria Duduziana e Explicações sobre a Teoria Duduziana, bate todos os outros textos disparado, 203 visualizações.
E o segundo texto mais lido, é em referência a um texto despretensioso meu que descrevia uma briga havida na rua em frente à minha casa, mas, de novo não é texto meu, é a letra da música "Facão três listras" do Teixerinha.
Meu melhor texto (ou pelo menos o mais lido) fala sobre a ida do Inter a Abu Dhabi, texto curtinho, otimista; otimismo que ao fim e ao cabo não se confirmou.
Ah! Depois que saiu a reportagem no Jornal da Manhã sobre a blogosfera, aumentou muito a visitação ao blog, uma vez que Gauchopescador e Assim falhou Zaratrusta são citados pelo Dudu, o jornalista blogueiro e autor da reportagem. Esses três, Dudu, Zaratrusta e Pescador formam o trio de "alemãos" blogueiros.