sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Gente

Na minha profissão, lido com pessoas, muitas pessoas; alunos, colegas, pais. Me acostumei a ver ouvir, dialogar, observar, analisar e entender os mais diversos tipos de pessoas.
Porém esta semana, por força da internação de minha frau, interagi com um grupo inteiramente diferente de tudo que já tinha visto em minha existência. São pessoas que lutam contra as mais diversas dificuldades que a vida lhes apresentou; drogas, alcool, depressão, síndromes as mais diversas, fobias. Em tempo, acho que minha frau está com a Sindrome de Burnout, a doutora dela ainda não definiu o que ela tem e está fazendo uma série de exames pra ter certeza.
Uma prática do tratamento consiste em fazer com que todos se conheçam e participem de atividades que os envolvem, formando uma rede de relacionamentos. Lógico que alguns se esquivam, mas são chamados para irem ao pátio tomar sol e conversar e por fim todos se conhecem. Por força das visitas acabei conhecendo-os e a suas histórias de vida. E tem cada tipo!
Há os viciados em drogas, crack principalmente, todos jovens, a maioria da classe média e com um histórico de rebeldia, contestação e problemas familiares; uma exceção, rapaz pobre e viciado em crack, rouba da família, assalta outras pessoas, mata. É o único a tentar fugir, está ali contra sua vontade, rebela-se, tem que ser amarrado à cama e sedado.
Um caso bem curioso, menino, 13 anos no máximo, está ali porque é viciado em computador, foi a um extremo tão grande que esquecia de comer, dormir, estudar, estava a tanto tempo defronte a máquina que não conseguia mais caminhar e está tão desnutrido que parece um esqueleto coberto com a pele, fiquei impressionado.
Um tipo clássico, homem, meia idade, já gostava de beber. Ao falecer a esposa, atira-se à bebida de forma violenta e em um ano está num estado lastimável, delirium tremens, fica tão fraco que tem que ser carregado, hoje, já bem melhor, ao assistir à pregação de uma pastora é o último a sair da sala, dialogam, acredito que haverá uma conversão.
Outro caso clássico, moça romântica conhece homem sedutor, a moça tem bens e dinheiro, apaixona-se, o maganão permanece com ela até vender todos os bens herdados e gastar a grana toda. Consequencia, depressão profunda, perda total da auto estima; a moça bonita, elegante e bem vestida, quase para de piscar, engorda 40kg e passa a ter problemas de saude diversos. O mais impressionante é o olhar parado e um piscar lento depois de vários minutos. Assustador.
Um menininho bipolar, quando surtava, gritava, chutava, mordia machucando coleguinhas e professoras, já foi internado várias vezes, desta vez já está a 40 dias internado, alterna momentos em que é um menino normal, calmo e carinhoso, com outros em que é turbulento, barulhento e agressivo.
Os drogados, depois de um período de desintoxicação, são enviados para as "fazendas" ONG´s destinadas a recuperar essas pessoas.
Uma pitoresca, apelidada de Chica, é a animadora da turma, brinca, conta piadas, diz bobagens e faz todo mundo rir, seu problema? Depressão!
Outro. Pequeno comerciante, trabalha a vida toda, faz o pé de meia, educa os filhos encaminha-os. Decide comprar uma casa na praia, para curtir uma aposentadoria na sombra e água fresca. Ao comunicar a cara metade surpresa! Ela decretou que não arredava o pé e que ele fosse sózinho se quizesse! Revolta e depressão!
Um homem baixinho e barbudo, trabalhava como uma mula, ignorado pela família tem a sensação de ser transparente e que todos são surdos porque ninguém o ouve e nem o vê. Passa o tempo todo tentando ligar pra família, acho que bloquearam o seu celular. Depressão!


Um comentário:

  1. Poxa, Tato, cada história de vida!!! Fico pensando q estas histórias fazem parte da riqueza da vida, q nos apresenta cada situação!! Mas considero a vida uma riqueza única, e sem termos direito de julgar as ações de "a" ou "b", pq também somos passíveis de erros... Mas me impressionou mesmo o menino de 13 anos, viciado em computador!! O pior é q vicia mesmo, eu tenho de me policiar p/ficar menos tempo teclando!

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