quarta-feira, 9 de março de 2011

As abelhas (continuação)

..........Teria o Flávio morrido? A julgar pelas minhas picadas (umas sete ou oito) que foram poucas mas muito doloridas, ele poderia sim ter morrido, pois ficou muito mais tempo sob ataque do que eu, fiquei livre delas por ter corrido a uma distância fora do raio de ação das abelhas.
Como elas tinham ido embora, a porta do jipe foi aberta e eu vesti um moletom com capuz, que fechei bem ao redor do rosto e me enrolei em um cobertor pois precisava recuperar meus tarecos de cozinha e encontrar o Flávio (vivo ou morto). Desci para o acampamento chamando, aos gritos, pelo Flávio, e ele não respondia!
Na direção da sanga, pelo meio do mato, depois de uns pés de unha de gato, avistei um trilho formado por roupas do Flávio, camiseta, calça, cueca, calçado, meias, então o barranco e a sanga. Ele se jogou na água, pensei. Olhei por ali, nenhum movimento, voltei pro acampamento, as abelhas enfurecidas tentando me picar de novo, comecei a juntar os tarecos pra ir acampar em outro lugar, quando vejo o Flávio voltando recolhendo e vestindo as roupas que estavam espalhadas, com as costas e a cabeça que pareciam um paliteiro de tanto ferrão de abelhas. Saímos dali o mais rápido possível e acampamos uns quinhentos metros abaixo, bem longe das danadas. Perguntei a eles o motivo do ataque. Chegaram a conclusão que ao estacionar o Toyota o pneu ficou bem sobre a raiz do toco onde o enxame morava, a vibração do motor diesel  irritou os insetos que atacaram o primeiro ser vivo que apareceu, no caso o primeiro a descer, o Flávio. Os outros dois ao ver o ataque, e sendo alérgicos, se entocaram na cabine e com os gritos do Mauro de que tinham que sair dali sem demora, o Daniel aprendeu a dirigir na marra e saiu de ré coxilha afora.
Mas tudo isso não foi nada!
Escolhido o novo local do acampamento, armei minha velha barraca, baixei os tarecos de cozinha, desci meus caniços e linhas de pescar e fiquei esperando os demais fazer o mesmo..... e nada!
Aí perguntei, alguém trouxe alguma coisa pra cozinhar ( iamos ficar três dias)? Nada.
Alguém troxe material pra pescar, linhas, iscas? Nada.
Vão dormir aonde? Flávio e Dani responderam que dentro do Toyota, Mauro não tinha onde dormir.
Ofereci um dos quartinhos da Yanes (tem dois), e fui fazer um arroz de puta pobre (com salame cortado em rodelas), almoçamos e fui tirar o meu cochilo de praxe.
Quando acordei, pensei, vou pescar um pouco, mas cadê meu material de pesca, só achei os piores caniços e linhas, o jaguaredo tinha carregado tudo! Inclusive as iscas!
De noite cada um se ajeitou pra dormir, às tantas senti movimento perto da barraca, dei um a espiada, era o Mauro enrolado no poncho sentado num toco perto do fogo(descobrimos depois que ele tinha medo de aranha, por isso não dormia em acampamento).
Resumindo, ficamos os três dias, tomando café preto, comendo arroz de puta pobre e fritamos os jundiás que conseguimos pescar, voltamos pra casa de mãos abanando e o Flávio meio atordoado de tanta ferroada que levou!
A Marta(mulher do Flávio) parou de contar quando chegou perto do 40° ferrão que tirou das costas e da careca do marido. O bom de tudo, disse o médico que o Flávio consultou, é que já que você não morreu das ferroadas também vai ficar, pro resto da vida, livre de ter reumatismo!

2 comentários:

  1. que beleza... histórias de pescaria são sempre muito boas. quem sabe um dia conto as poucas que tive no sítio do meu avô

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  2. tem gente que é masoquista....enquanto isto, eu tava no sossego, no aconchego do lar...no conforto e no bem bom...hehe..

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