quarta-feira, 5 de maio de 2010

Os Dourados


Seu José, eu nem era nascido ainda, costumava ir pescar nas férias, com os colegas da Cia de Fumo Souza Cruz, onde trabalhava.
Numa dessas, foram, cerca de dez homens, pescar no rio Camaquã. Chegaram ao local, desceram as tralhas, montaram acampamento e o tempo começou a fechar, formando uma barra negra no horizonte e já se viam os relâmpagos e ouvia-se o rumor surdo dos trovões. Quando o tempo se arma pra chuva é a hora propícia pra se pescar de arpão, pois os peixes todos saem pra caçar. Um dos pescadores tinha trazido um arpão de três fisgas e um "silibin" (lâmpada com luz forte, alimentada a bateria) pra clarear o fundo do rio. Seu José e mais um se apresentaram como voluntários pra ir com o tal do arpão. O tempo já escuro, coberto pelas nuvens de chuva.
Entraram na canoa, o um remava na popa, seuJosé no meio, com um facão na mão e, na proa, o cara com o arpão e o foque iluminando os pedras do fundo do rio. Era uma corredeira que, pra cima tinha uma pequena queda dágua, em formato de muro, formada pela natureza. Nisso o arpoador avista um par de piracanjuvas nadando lado a lado, lentamente, quase à flor dágua, peixes grandes e bonitos, arremessou o arpão que pegou de raspão mas não fisgou, e, azar, o arpão bateu numa pedra e quebrou um dente! Os peixes assustados espadanaram, jogando água pra todos os lados, molhando os pescadores.
Mais a frente, o do arpão ilumina um cascudo, enorme, novo arremesso, novo raspão e menos um dente! Tava feia a coisa!
Resolveram tentar mais um pouco, foram chegando perto da queda dágua, e ali, viram um dourado, grande, bonito como ele só! O arpão voou, o homem forcejou, girou o corpo e jogou o peixão no fundo da canoa. Seu josé, rapidamente, larga o facão, de fio, na cabeça do dourado evitando que ele saltasse! Morto o dourado, foi aquela festa! Pesaram o bicho, deu sete quilos, bichão!
50 anos depois. Estou acampado à beira do rio Uruguai com mais 5 companheiros. Com o auxílio do filho do proprietário das terras, colocamos uma rede e um espinhel. Pescamos de carretilha e linha de mão, mas, o rio muito baixo não nos favoreceu.
Pensávamos que iríamos voltar pra casa de mãos abanando. Sol alto, perto do meio dia, o rapaz apareceu e perguntou se alguém queria ir junto revisar o espinhel, me ofereci.
Na canoa, eu com uma faca de churrasco, presente do seu José, na mão, subimos a corredeira até onde estava amarrada a ponta do espinhel e começamos a revisar, jundiás, pintadões, armados, mas nenhum peixe grande.
Nisso, na outra ponta do espinhel ouvimos o ruido de peixe fisgado se debatendo, ruido grosso, sinalizando peixe grande, olhamos e, naquele exato instante o peixe saltou! Alto, mais de metro fora dágua, o sol a pino incidiu sobre as escamas do peixe irradiando uma profusão de reflexos dourados como ouro puro! Coisa muito bonita de se ver!
Nem eu nem o rapaz havíamos pego um dourado na vida! O rapaz que acompanhava o pai nas pescarias falou: "Seu Marcos, vou puxar o dourado pra canoa e o senhor me ajuda a evitar que ele pule da volta nágua, certo? Esse bicho tem força!"
Concordei. Ele veio trazendo o bichão, procurando cansá-lo, até que jogou-o no fundo da canoa, bati com a faca de churrasco na cabeça do peixe, mas não fez efeito. O bicho deu um pinote e quase se vai pra fora da canoa, nos jogamos os dois em cima do peixe e eu continuei batendo com a faca até ele parar de se mexer. Aí foi aquela festa no acampamento! Já não estávamos sapateiros! E na revisão da rede ainda havia um surubi de bom tamanho! Fotos, risadas e cerveja argentina de litro complementaram a pescaria.

2 comentários:

  1. E eu vim aqui comer peixe, acabei comendo carreteiro....errei a hora! hihihihi

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  2. Na realidade foi minha irmã que postou o comentário acima! Hehehehehe

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