Ossinho de porco: Provavelmente os "alemões" Dudu e Gerson não tiveram a oportunidade e o prazer de desfrutar desse petisco da culinária gaucha e quiçá brasileira. Descendentes de classe média (remediada, como dizia meu avô Bento Carvalho), suas mamãs provavelmente nunca trouxeram este prato à mesa.
Vô Bento gostava, e muito, da "aflição", apelido pelo qual denominava os ossinhos e tinha uma tática toda sua para aproveitar bem as carnes que ficavam grudadas nos ossos.
Esclarecendo: Ossinho de porco é constituido da carcaça do porco que é cortada (serrada) em pedaços pequenos, onde ficam grudados pequenos pedaços de carne; como é mais osso do que carne, é vendido por um preço muito barato, tornando-se, junto com a carcaça de frango o prato de resistência do pessoal de baixa renda.
Vô Bento cozinhava beeem os ossinhos de forma que quando terminava a cocção as carnes estavam se desprendendo facilmente dos ossos, então era só engraxar os bigodes!
Eu peguei gosto naquele período (4 anos) em que fiquei desempregado (um dia irei agradecer ao Collor por isso) e precisava economizar em todos os lados.
Tenho uma panela de ferro grande, coloco uns dois kg de ossinhos nela, um pouco de banha, sal, alho, cebola, pimenta vermelha e deixo fritar bem, dá pra comer assim, ou também pode-se acrescentar extrato de tomate, um pouco de shoyu e molho inglês cozinhando com um pouco d´água pra fazer um molho.
Pra comer, arme-se com uma faquinha, esqueça o garfo, e vá destrinchando manualmente cada reentrância onde as carnezinhas se escondem! É muito gostoso, mas dá uma aflição!
Mondongo: O mondongo nada mais é do que o estômago (bucho) do boi (ou da vaca, sei lá). Usado em diversos pratos dentre os quais destaco dois: o mocotó e a dobradinha( o outro nome do mondongo) com batata.
No mocotó o mondongo é mais um ingrediente, junto com as tripas, as patas, feijão branco, linguiça e outros temperos. Dizem os entendidos em culinária, que mocotó bom é aquele onde o sujeito come o mocotó e se demorar um pouco pra limpar os lábios, fica com eles grudados pelo sumo do ensopado! Hehehehehe!
Desse prato o expoente é Dª Mimi, ninguém bate minha mãe no preparo de um mocotó. Para que fique gostoso é essencial que se limpe bem (mas bem mesmo!) o mondongo, as tripas e as patas, de forma a garantir que não hajam sabores/cheiros estranhos quando o prato ficar pronto.
Um vinho tinto, ovos cozidos picados, salsa a vontade! Mas atenção, se o indivíduo não está bem fisicamente, recomenda-se cuidado na ingestão, prato extremamente calórico, pode derrubar o cidadão!
Mocotó |
A dobradinha já é mais simples, também corta-se o mondongo (escrupulosamente limpo) em tirinhas, cozinha-se junto com as batatas e temperos a gosto (alguns acrescentam linguiça e feijão branco) e serve-se com ovo cozido picado e salsinha. Delícia!
Dobradinha |
É um pouco menos calórico que o mocotó.
Lingua Bovina: A lingua já merece uma atenção maior dos chefs e é um prato que se encontra com uma certa facilidade nos restaurantes, especialmente a "lingua com ervilhas".
lingua com ervilhas |
Como tínhamos criança em casa, não podíamos apresentar a lingua nua pra ser comida, então descobrimos um jeito. Cozinhávamos a lingua e retirávamos a parte externa, sobrava um tipo filé de lingua que cortávamos em pequenos bifes que eram preparados à milanesa. Ficava bom à beça.
Fígado: O bom mesmo é bife de fígado só temperado com sal e passado com uma gota de óleo na chapa do fogão a lenha, bem quente!
Esse bife eu filava do meu tio Samuel, na época em que ele estava no quartel. Quando ele chegava em casa, vinha roxo de fome, pois serviu na cavalaria, e o regime era puxadíssimo. Aí ele comprava um pouco de fígado cortava os bifes e passava na chapa do fogão a lenha. Como eu sabia o horário de chegada do "soldado Carvalho" , ficava meio de plantão por ali, pra pegar uma rebarba.
Lembro bem desses ossinhos e da "aflição" que nos causava, mas é uma comidinha de lamber os beiços, eu ainda faço e a Fernandinha adora! Tem coisas que só os pobres sabem como é bom, né meu velho?!
ResponderExcluirÉ verdade!
ExcluirCozinhe mandioca (aipim, macaxeira, mansa, doce) com um pouco de sal e gordura, pique, retire os ossinhos, acrescente o aipim picado e salpique temperinho verde por cima. No fim de tudo, passe um guardanapo de papel na boca e nas mãos!
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