Todos sabem que gosto muito de pescar, e, para mim, pescar é um ritual de limpeza do corpo e da alma, pois o contato direto com a natureza, e quanto mais natural a natureza, melhor, só me faz bem!
Em um verão destes, os professores todos de férias, combinamos uma pescaria, o Maurinho Notargiácomo, Eu, o Flávio Krampe e o filho dele Daniel. Fomos a uma fazenda que era (eu acho) capataziada pelo tio do Mauro e que tinha o rio Piratinim passando por dentro das terras deles.
A aventura já começou com o veículo escolhido para a viagem; o Flávio havia ganhado de um tio lá dele um jipe Toyota de 1900 e antigamente, azul e amarelo (foi o 1° Toyota do RS) e que precisava (urgentemente, nós não sabiamos disso) de manutenção. Por ser rústico e com tração nas 4, gostamos da idéia, porém (sempre há um porém) tinha uma folga de duas voltas na direção (não era folga, era um feriadão completo).
Então, estávamos indo tranquilamente pela BR quando o jipe embestava pra contramão, o Flávio, de motorista, girava o volante enlouquecidamente até que ele "pegava" de novo e conduzia de volta a pista certa, aí ele embestava pro acostamento e era aquela loucura pra não cairmos do barranco, resumo, uma viagem que era pra ser de 30min, levou duas horas. A foto ao lado é de um jipe do mesmo modelo, mas em ótimo estado (só pra ilustrar). Hoje o jipe, de mecânica e elétrica, tá tinindo, falta a lataria ainda.
Finalmente chegamos na fazenda, depois de parar em dois bolichos pra uma gelada, que o Maurinho não resistia, fomos muito bem recebidos pelo tal tio que deu uma dica: "em vez de ir no rio, vão no sangão ali ó (indicando a direção com o dedo), que tá dando cada jundiazão de dois palmos". Fomos.
Perdemos a entrada pro tal sangão, eu desci pra ver os pesqueiros pela beirada sanga, enquanto eles faziam a volta pra acampar uns 300m pra cima. Fui subindo a pé, espiando e identificando os melhores lugares, no meu julgamento, pra pescar mais tarde. Enquanto isso o Toyota fez a volta e desceu uma coxilha em direção do mato, um pouco acima de onde eu estava, sumindo da minha vista.
Continuei caminhando e dali a pouco vejo o Flávio, com a camiseta na mão, correndo feito um louco, girando a camiseta acima da cabeça e gritando: "Abelha, abelha!".
Como não sou de me assustar com pouca coisa, continuei caminhando em direção ao acampamento, onde estava o jipe. Umas duas vezes o Flávio cruzou por mim daquele jeito, gritando:"Abelha, abelha"; aí eu falei pra ele: "Tá lôco, meu, para de correr e gritar e me ajuda a montar o acampamento!".
Fui no jipe, peguei a tarecama de cozinha que eu havia levado e fui fazer um fogo pra um mate, estranhei que o Mauro e o Daniel estavam trancados dentro do jipe e não saiam de jeito nenhum; e o Flávio correndo e girando a camiseta: "Abelha, abelha!", gritava, pensei, tem lôco pra tudo nesse mundo.
Ajeitei a trempe, catei umas lenhas, vi quando o Toyota saiu de ré pra longe, em cima da coxilha, peguei água na sanga, notei que uns bichinhos passavam voando a milhão zunindo, e risquei um fósforo pra acender o fogo........., aí uma abelha me picou no pescoço! E eu, no instinto, cometi o erro de dar um tapa e depois pisar com raiva, na agressora. As abelhas africanizadas (européia+africana) quando esmagadas emitem um cheiro que permite ao resto do enxame, localizar exatamente (como um GPS) o incauto que matou a coleguinha delas e, então, elas atacam em massa.
Foi a minha vez de correr, o Flávio tinha sumido pra dentro do mato, então corri em direção do Toyota gritando: "Abelha, abelha!". Quanto mais eu corria em direção ao veículo, xingando e falando pra eles abrirem a porta (as abelhas ferroando enfurecidas), mais eles recuavam de ré e faziam sinal que não, até que uns 300m do mato eles pararam. O Mauro abriu uma frestinha da janela e disse: "Tinha uma nuvem de abelhas desse tamanho (os braços bem abertos), em cima de ti, e nós somos alérgicos a picada de insetos. Eu todo encaroçado e brabo, xinguei mais um pouco. Depois ficamos preocupados, será que o Flávio tinha morrido?
Continua.....
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