sábado, 5 de junho de 2010
Tio Samuel
Tio Samuel morreu faz pouco tempo, mas está vivo em minha memória!
Desde minha infância Tio Samo, como o chamávamos, foi meu ídolo. Por vários motivos, alguns não muito racionais mas vá lá.
Tio Samo serviu ao exército, na cavalaria, isso no tempo em que passavam filmes americanos de cavalaria nos cinemas locais, imagine a associação que eu fazia! Ele colecionava gibis de faroeste, e dos super heróis da época, eu adorava lê-los; ele tentou me ensinar a tocar acordeão e só fracassou pela minha absoluta faltas de habilidade com aquele instrumento.
Foi goleador das primeiras equipes de futebol de salão que surgiram em Ijuí, e jogava futebol de campo muito bem, camisa 10, só não se profissionalizou porque não quiz. Naquela época não havia televisão, então eu escutava a transmissão dos jogos pelo rádio, havia um campeonato citadino de futsal(naquele tempo não se chamava assim) com transmissão ao vivo. Curiosidade, a bola de futsal era preenchida com crina de cavalo, não quicava e era muito pesada.
Chegamos a jogar juntos, lembro de um jogo em Sapucaia do Sul, eu com 17 anos e o Tio já veterano tinha formado um time de futsal do escritório. Ele era a estrela soltária entre um bando de pernas de pau, jogo correndo, empate em 1 a 1, eu no banco vendo o Tio se matar pelo time, entregando redondinha e recebendo uma melancia de volta. Terminado o primeiro tempo entrei, e, em menos de cinco minutos fiz um gol e. numa triangulação deixei o Tio na cara do gol pra fazer 3x1! Vencemos com dois gols de Samuel e um de Marcos, eu muito feliz me achando, quando o Tio declarou: "É, até que tu joga direitinho."
Murchei!
Tinha defeitos, é óbvio, foi viciado em álcool, fumo e jogo (conseguiu se livrar do álcool), porém quem se aproximasse descobria um cara muito inteligente, com um senso de humor diferenciado e uma pitada de autosuficiência. Tinha preocupações quanto ao futuro dos filhos, e, fez questão de que todos fizessem faculdade, esse era um orgulho dele!
Tinha muita sorte, ganhou duas vezes na loteria federal, ganhava seguido no jogo do bicho, mas como era aficcionado pouco aproveitou pois tinha conta nas lotéricas, e, as vezes o que ganhava ficava pra pagar a conta feita.
Foi meu padrinho, fui padrinho do Roberto, ficamos muitos anos sem nos vermos, porém, quando voltei a morar aqui, reatamos os contatos e acabamos parceiros nas pescarias de lambaris e outros peixinhos nos rios e riachos ao redor da cidade. Não havia lugar que soubésssemos que era possivel pescar que não fôssemos, açudes, rios, sangas tudo era visitado com nosso arsenal de captura ictiológica. Nossa especialidade eram os lambaris de sanga, faziamos disputa para ver quem pegava mais, disputa normalmente perdida por mim face a habilidade e aos tres ou quatro anzóis que ele colocava na linha. Hehehehe
Mas o bom mesmo era a fritada de lambaris depois!
Era viciado também em palavras cruzadas e por isso tinha um vocabulário riquíssimo, foi a primeira pessoa que vi comprar um enciclopédia Delta-Larousse e lê-la, fato que imitei( a leitura, claro). Tinha prazer em lançar palavras difíceis em conversas com amigos e vizinhos pra ficar tirando com a cara de quem não entendia o que ele dizia! Depois, com paciência e deleite explicava aos burraldos o que ele tinha dito. Lembro de uma conversa que tive com ele em Sapucaia, falávamos sobre renda e, lá pelas tantas lancei uma renda per capita (com silaba tônica no pi de capita), primeiro ele parou de falar, depois riu e por fim lascou: " Esse meu sobrinho é um grosso instruido!" Hehehehe
Meu tio tinha tiradas bem próprias, em 2003 junto com amigos criei um time de futsete chamado Habilidosos, assim, em duas cores, principalmente pelo time ser formado por veteranos, mandamos confeccionar o fardamento e eu, orgulhoso, mostrei pra ele. Ele olhou para o sobrinho sorridente, fardado com o uniforme do time, leu o nome em duas cores no escudo e lascou: "Fere o vernáculo, porém é bem criativo, mas pelo certo teria que ser Habeis Idosos!"
Meu tio é inesquecível!
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Muito bom o texto e memorial, esse vício de palavras cruzadas eu tenho, e o prazer de lançar palavras pouco usuais nas conversas pra depois tirar um sarro explicando, também..ahhaha
ResponderExcluireheheh. muito bom primo! quando vi teu comentário não sabia se era do Marcos pai ou filho. me identifiquei muito com tudo que escreveu, inclusive, a mãe também tem o vício de palavras cruzadas, e nossa paixão pelas letras realmente acho que é de família! ehehhe. não é a toa que são cinco jornalistas: eu, fábio, gérson, rodrigo e sandro. já os outros, tiveram juízo e fizeram um curso que dê dinheiro..auhauha. sobre o radinho, lembro de quando visitei ele no hospital e tinha um jogo amistoso do são luiz e ele estava ouvindo, sentado na beirada da cama, comentando a partida tranquilamente. depois, quando ele saiu, eu ainda o via no 19 de outubro na época que eu trabalhava no JM. Enfim, deixou muitas saudades. O Rodrigo teve aqui poucos dias atrás, inclusive. Abração aeh e a honra é minha de ter vc lendo meu blog. já add o teu nos meus favoritos e vou falar pra mãe tb (qdo ela voltar de Frederico, ela está lá visitando a Carol). Ah, e sabia que vou ser pai? Em novembro, de uma menina..eheheh. Abraço!
ResponderExcluirTaí um texto q gostei muito, because meu irmão não foi santificado mas também não foi crucificado... ao contrário de uns e outros q só falam dos defeitos das pessoas, soubeste colocar muito bem um ser humano, c/erros mas também com qualidades! Parabéns, sobrinho, continue assim!! E é mal de família escrever bem, né? Graças a Deus!!!
ResponderExcluirAs belas letras são identificação familiar desde a Vó Deza, que nos deixou esta bela herança... e os que não são jornalistas, são professores ou advogados, ou administradores, com um médico, um engenheiro, que me lembre...ler, estudar, refletir, filosofar é rotina da família...
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