terça-feira, 15 de setembro de 2015

Maria Aparecida Franco Góes – Carta aberta a Aécio Neves



Maria Aparecida Franco Góes – Carta aberta a Aécio Neves

Meu nome é Maria Aparecida Franco Góes. Sou professora aposentada pelo estado de Minas Gerais. Trabalhei durante 32 anos fazendo aquilo que eu mais desejava: formar pessoas de caráter. Falhei muitas vezes, assim como todo mortal. E hoje carrego comigo a lição mais importante que aprendi nesses anos todos: SEMPRE APRENDER COM O ERRO! O ERRO DE HOJE PODE SER A CHAVE PARA O SUCESSO DE AMANHÃ.
Tive uma infância pobre e simples. Nunca fiz papel de vítima perante a vida e a sociedade. Cresci,estudei,me formei e conquistei tudo que tive graças ao meu esforço pessoal. Na cidade que escolhi viver, nunca precisei de cabide de emprego público e, tampouco de favores de políticos locais ou estaduais. Apesar de meu cargo ser considerado público, eu o conquistei por merecimento. Passei em um concurso e conquistei o quarto lugar.

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que sempre fui sua eleitora. Votei várias vezes em V.Ex.ª, inclusive nas últimas eleições de 2014. Portanto, me poupe de ser taxada como petista, petralha, comunista ou qualquer outro adjetivo semelhante.
Nós perdemos as eleições meu caro Aécio. Eu fui uma das mais de 51 milhões de pessoas que votaram em V.Ex.ª. Eu também amarguei o sentimento de fracasso junto com V.Ex.ª.
A única diferença entre nós dois é que eu consegui aceitar esse contratempo, enquanto V.Ex.ª transformou todo esse episódio de derrota em raiva, ódio, mágoa, despeito e hipocrisia.
Nosso país tem tomado alguns rumos que, talvez, não sejam os melhores. Algumas decisões da equipe econômica da presidente Dilma Rousseff tem sido precipitadas e, certamente estão em desencontro com tudo aquilo que ela pregou durante a campanha de 2014.
Mas isso é motivo para o comportamento agressivo, mesquinho, egoísta, individualista e infantil que V.Ex.ª tem manifestado diante da mídia e das redes sociais?
Qual a proposta que o senhor tem a oferecer para ajudar a conter atual crise política e econômica pela qual o meu país está atravessando?
Aliás, quais são as propostas que V.Ex.ª tem apresentado, como senador, ao meu estado de Minas Gerais durante esses últimos quatro anos?
Que tipo de contribuição social V.Ex.ª ou o seu partido (que já não é mais o meu partido) tem dado às pessoas pobres desse imenso Brasil ?

Eis o ponto a que chegamos - Texto de Maurício Carpinejar

Por: Carpinejar
15/09/2015 - 06h01min

Nunca vi tanta gente do bem dizer que pretende sair do Rio Grande do Sul e morar em outro Estado. Experimentamos uma semana farroupilha ao contrário.
E não são desertores, são sofredores, são desesperados, que não aguentam 40 homicídios num final de semana, não aguentam a soltura de bandidos assim que são presos por falta de condições nos presídios, não aguentam comerciantes morrendo com bala perdida quando vão levar seu cachorro para passear de noite, não aguentam óbitos violentos de adolescentes por motivo banal, em nome de um celular ou de um tênis, não aguentam brigadianos e policiais circulando em subcondições, sem um vencimento que honre a insalubridade da profissão, cansaram da esperança, não aguentam o abandono das ruas e dos parques, não aguentam os buracos das estradas, não aguentam a ansiedade e o nervosismo quando os filhos demoram a retornar ao lar, não aguentam as más notícias nas patas dos quero-queros.
Nossa alma pilchada está cada vez mais pichada de frases de protesto.
Nossas tragédias são modelos para toda terra.
O orgulho de ser gaúcho foi ferido. Falar o que de bom daqui? Como exaltar o turismo se não há como sair em segurança de casa?
Antes, os professores faziam greve para aumentar os seus pequenos salários, hoje estão fazendo greve para manter os seus pequenos salários. Os tempos se agravaram. Manter o emprego é a única promoção que existe. O governo não poderia ter parcelado o salário do funcionalismo, ainda mais num Estado absolutamente familiar, absolutamente centrado na proteção familiar. Ele não constrangeu categorias profissionais, deixou de ser uma negociação com sindicatos, feriu a todos, baqueou o coração da família gaúcha.
Os servidores precisam mendigar o que merecem por direito para sustentar as suas crianças. Obrigações desandaram em reivindicações. Não houve mobilização civil e popular que preparasse o ambiente para uma crise, e sim decretos, em que benefícios foram suprimidos de repente. O funcionalismo virou uma horda de indigentes assalariados, voluntários forçados a seguir sem nenhuma palavra de afeto, condenados a tomar um veneno amargo diante da inexistência de bula. Trabalhar para quê? Como trabalhar sabendo que aquilo que está ruim tende a ficar pior? Ter ou não ter emprego não garante mais nada no final do mês. Estamos à mercê da roleta-russa da arrecadação.
Pois receber o valor do contracheque um mês depois, em parcelas a conta-gotas, apenas cria juros, empurra empréstimos goela abaixo e termina por criar um pânico financeiro.
Óbvio que haverá redução drástica do consumo, e aumento do endividamento. O salário atrasado não mais cobrirá despesas, e sim dívidas. Como alguém conseguirá atender as demandas fixas domésticas, irredutíveis, implacáveis com R$ 600?
O próprio governador dá o exemplo negativo: já que ele mesmo não paga as suas despesas e contraria as suas obrigações com a União.
Sirenes, apitos, buzinas, greves, protestos, passeatas e trânsito interrompido... Nem mais escutamos os sinos das igrejas avisando do meio-dia e da hora do almoço.

sábado, 12 de setembro de 2015

Dilma e a corrupção na Petrobras


Dilma e a corrupção na Petrobras
Se for possível, esqueça por alguns minutos todos os adjetivos e piadinhas, toda indignação seletiva dos que governaram o país por décadas e o transformaram na sociedade mais desigual do planeta, todas as manchetes escandalosas, esqueça as frases de efeito dos jornalistas que garantem seus empregos pensando exatamente como o patrão manda, os comentários dos seus amigos e colegas ressentidos pela ascensão social dos mais pobres, esqueça por alguns segundos o nosso racismo, nossa centenária indiferença com os miseráveis, nossa cordial tolerância com as injustiças sociais, nossa cômoda aceitação da existência de uma multidão de pobres dispostos a fazer o trabalho pesado por salários irrisórios, deixe de lado nossa ancestral complacência com a corrupção - que começa com a carta de Pero Vaz de Caminha pedindo ao Rei um emprego para um parente e vem até ontem, quando você aceitou pagar menos por um serviço sem recibo ou ofereceu um troco (ou um milhão) para o fiscal não lhe multar -, esqueça tudo isso por um breve instante e pense nos fatos.
1. O golpe civil-militar de 1964, que jogou o Brasil numa ditadura cruel que durou 25 anos e foi planejado e executado (hoje todos sabem) pelo governo americano e segundo interesses das grande empresas americanas, foi apoiado por pessoas de bem como você, que acreditavam no que diziam os jornais da época (os mesmos de agora), e queriam combater a corrupção na Petrobras e impedir as práticas comunistas do governo eleito.
2. Em 1989, ano que marca a volta da democracia com eleições diretas para presidente, o jornalista Ricardo Boechat foi premiado por denunciar a corrupção na Petrobras.
3. Em 1995 o jornalista Paulo Francis denunciou a corrupção na Petrobras e, por isso, foi processado.
4. Em 1997, o presidente Fernando Henrique Cardoso acabou com o monopólio da Petrobras na exploração do petróleo brasileiro e criou o sistema de concessão, que favoreceu as grande petroleiras americanas. FHC também editou a Lei n° 9.478, que autorizou a Petrobras a se submeter ao regime de licitação simplificado, na prática permitindo que a empresa contratasse fornecedores sem fazer concorrências públicas. Para o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, esse foi o momento em que "o governo Fernando Henrique colocou o galinheiro ao cuidado da raposa".
5. Segundo o depoimento dos delatores premiados da Lava Jato (Pedro Barusco e outros) e segundo a denúncia do Ministério Público, foi em 1997 que esta quadrilha (Paulo Roberto Costa, Youssef e turma) começou a roubar a Petrobras.
6. Durante o segundo mandato de FHC, o Ministro da Justiça - e, portanto, chefe da Polícia Federal - era Renan Calheiros (PMDB).
7. Em 2009, com a descoberta das gigantescas reservas do pré-sal, o governo Lula anunciou mudanças na lei de exploração do petróleo, favorecendo a Petrobras. As petroleiras americanas, Chevron, Shell, Exxon e a inglesa BP, ficaram de fora. Em telegramas revelados pelo Wikileaks e publicados pela Folha de SP, o candidato tucano José Serra garantiu aos representantes da Chevron que, se eleito, voltaria ao sistema anterior. Desde então Serra e o PSDB vem defendendo o modelo de concessão e os interesses americanos no petróleo brasileiro.
8. A quadrilha de Youssef e Paulo Roberto Costa começou a roubar em 1997, roubou a Petrobras durante o segundo mandato de FHC, durante todo o governo Lula e nos primeiros anos do governo Dilma. Entre os beneficiados com o esquema milionário estão empresários e políticos de todos os partidos, especialmente do PP e do PMDB, mas também do PT, do PSDB, do PSB e outros.
9. Em 2013 Dilma sancionou a lei 12.846 que definiu como corruptores tanto as pessoas físicas como as pessoas jurídicas. Graças a esta lei, pelo menos oito empresas tiveram executivos presos: Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS, UTC, Engevix, Iesa, Queiroz Galvão e Mendes Júnior. A lei sancionada por Dilma pode render a condenação criminal dos sócios e executivos e pune as empresas com multas que variam de 0,1% a 20% sobre o seu faturamento. Foi com este temor que os milionários presos fizeram suas delações premiadas.
10. Dilma indicou e reconduziu ao cargo o Procurador Geral Rodrigo Janot, que investiga a corrupção na Petrobras e já indiciou muitas pessoas. (Bem diferente do que fazia o engavetador geral da república no governo FHC.)
11. A Polícia Federal, durante o governo Dilma, levou a cabo a Operação Lava Jato, que prendeu e desbaratou a quadrilha de Youssef e Eduardo Costa, que roubava a Petrobras desde o governo de FHC, atravessou o governo Lula roubando e bateu no poste no governo Dilma. Entre os investigados, com fortes indícios de terem recebido dinheiro sujo, estão Renan Calheiros (ministro da Justiça e chefe da Polícia Federal de FHC) e Eduardo Cunha (PMDB), atual presidente da Câmara, com um longo histórico de envolvimento em falcatruas de toda espécie.
A corrupção na Petrobras é antiga, no Brasil é ancestral, e os ladrões de dinheiro público, de qualquer partido ou governo, devem ser severamente punidos e, isso é importante, devem devolver o dinheiro que roubaram aos cofres públicos, mas repassando esta lista de fatos, todos incontestáveis, você ainda acha que há algum sentido em pedir, com o pretexto de combater a corrupção na Petrobras, a saída de Dilma para entregar o governo a Renan Calheiros e a Eduardo Cunha?
Você não acha bem mais provável que, sob o pretexto de combater a corrupção, eles queiram que a Dilma saia para atender interesses poderosos e voltar a roubar, como sempre fizeram?

Jorge Furtado