domingo, 28 de novembro de 2010

Sonho recorrente


Sonho com você
Sempre estamos nus
Em alguns momentos fazemos amor
De conchinha, como só você sabia fazer
Os movimentos sinuosos, coleantes, circulares, até se encaixar completamente
Em outros fico somente contemplando teu corpo
Como eu sempre fazia
E eu dizia de como era privilegiado
De poder olhar pra teu corpo assim, em abandono sobre os lençóis
A perfeição das curvas do teu corpo magro, longilíneo
Apesar da magreza as curvas eram perfeitas
As nádegas redondas, os seios lindos, pequenos
As coxas longas e macias, os pelos dourados, brilham contra a luz
Eu elogiava e você sorria, dizendo que não era tanto assim
Então acordo e você não está a meu lado
Sinto um vazio tremendo
Estou só

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A desilusão do quase.

Esse texto é muito bom, mesmo que não seja do LFV!
Reflete mais ou menos o que penso de como não se deve viver a vida.

"Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis,tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque,embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
Luis Fernando Veríssimo "

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dinossauro do Rock





Ontem fui assistir meu sobrinho Ale e sua Banda Parada Obrigatória se apresentarem na Praça da República, nos eventos de encerramento da Feira do Livro de Ijuí.
Trata-se de evento eminentemente cultural, tradicional em nosso município.
Devo salientar que me senti um pouco deslocado no meio daquela turminha de adolescentes, dos mais diferentes estilos. Tinha a turma dos bonés virados pra trás, nitidamente pessoal dos arrabaldes que gosta de metaleira braba, depois tinha a turma das patricinhas, com os cabelos pintados das mais diversas cores; só pra exemplificar, atrás de mim, estavam sentadas quatro, uma com o cabelo lilás, outra com o cabelo vermelho vivo, outra com cabelo verde fosforescente e uma última de cabelos louros naturais fazendo a nota destoante do grupo. Nesse mesmo grupo garotos com cabelos esquisitos, penteados para todos os lados, dando a aparência de um ninho de passarinho revirado. Hehehehe.
O interessante é que essa galera sabe as músicas de cor, e cantam junto e vibram com a apresentação, igualzinho a gente vê na tv.
Gostei das músicas, umas duas ou três já conhecia de tanto ouvir tocar no rádio, tem composições novas e fizeram alguns "covers".
Mas o que eu queria dizer é que eu, dinossaurão do rock, comprovado e juramentado, gostei muito do que vi, os caras sabem tocar, o vocal é encorpado, as guitarras são "iradas", o baterista é bom demais ( me lembra aquele baterista dos "muppets"pelo jeitão de tocar o instrumento, ele deita o cacête sem dó na batera).
Mas o mais legal foi ver o jeito que esse povo me olhava, um velhão vestido todo social, sentado no meio deles bem quieto e, quando começou a música ficava batendo o pé no ritmo do rock!
Aí quando o Ale perguntou se tinha parente ali, ergui a mão, então o povo compreendeu porquê eu estava ali, era pra ver o sobrinho se apresentar. Agora podem ter certeza! Se ele não fosse bom eu não vinha!
Esse testemunho dou, pois já vi, nesta mesma praça "Os Incríveis", no antigo Cine América "Renato e Seus Blue Caps", no Araújo Viana em POA "Rita Lee e Os Mutantes", no antigo ginásio do Grêmio "Elis Regina, Martinho da Vila e outros", no Rio de Janeiro "Jorge Ben" (antes de ser Benjor), no Rio também vi "Sivuca", sem falar dos filmes do "Elvis", dos "Beatles", do"Abba" , e muitos outros. Então eu sei se a música, independente do gênero, é boa.
Abração gurizada, fiquei fâ!


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O meu time, rumo ao mundial


O inter está aproveitando este final de campeonato pra ajustar as peças visando o mundial de clubes.
Ontem, apesar de perder o jogo, já vi progressos no ataque, e acho (se fosse eu o treinador) que o ataque titular deve ser esse: Rafael Sóbis e Leandro Damião, ficando o Alecssandro como reserva imediato.
Mal posso esperar pra ver esse mundial, temos chances, temos chances!
Valei-me São Luis Fernando Veríssimo!

Mas que côsa bem feita tchê!


Como os meus velhinhos e mais Tia Nara e Tio Naná estavam aqui ontem, acompanhei a corrida de fórmula um meio de orelha.
A mim não importava muito quem fosse campeão, desde que não fosse aquele bobalhão do Alonso.
O cara até pode ser bom, afinal, já foi campeão, mas bota bobalhão prepotente. O cara tem o rei na barriga, ou acha que tem, e fica exigindo atenção e privilégios por conta disso.
Desde aquela corrida em que ele atropelou o Massa na entrada dos boxes, peguei nojo da figura, e aí vem a ultrapassagem comandada dos boxes.
Fica clara a preferência dada ou exigida pelo boneco junto à Ferrari.
A escuderia campeã mostrou como pode se ganhar campeonato dando condições iguais aos dois pilotos, mesmo tendo um preferencial.
Mas o que me deixou feliz e realizado na corrida de ontem foi o piloto russo, nem prestei atenção no nome, mas é um novato procurando seu espaço neste circo milionário.
A dondoca do Alonso não conseguia ultrapassar o russo, olhando nas reportagens descobri que é Petrov, que se defendia bem, aí, quando conseguiu ele resolveu reclamar com gestos largos e agressivos, o russo olhou pra ele e deu o troco, provavelmente com o dedo do meio em riste mandando o espanhol mimado tomar lá naquele lugar onde o espinhaço perde o nome.
Vi isto no jornal matutino da tv e fiquei realizado!
Até que enfim alguém mandou aquele palhaço se situar, se o cara quer ser campeão, que o seja por competência e não exigindo privilégios na sua escuderia e exigindo preferência nas escuderias concorrentes. Quer ultrapassar? Te vira meu!

domingo, 7 de novembro de 2010

A alma e o coração (assim está meu estado de espirito).

Citando meu sobrinho Gerson, do blog "Assim falhou Zaratrusta", que cita Charles Bukowski.

Na chuvosa noite de Pisa

a alma e o coração
(Charles Bukowski)


inexplicavelmente estamos sozinhos
para sempre sozinhos
e era pra ser
assim,
não era pra ser
de nenhum outro modo -
quando a luta contra a morte
começar
a última coisa que desejo ver
é
um círculo de faces humanas
pairando sobre mim -
prefiro meus velhos amigos,
e as paredes de mim mesmo,
que estejam somente eles ali.

tenho estado sozinho mas raramente
solitário.
satisfiz minha sede
no poço
de mim mesmo
aquele vinho era bom,
o melhor que já bebi,
e esta noite
sentado
olhando a escuridão
finalmente entendo
a escuridão e a
luz e tudo que está
entre os dois.

a paz da alma e do coração
chega
quando aceitamos como
é:
ter nascido
nesta
estranha vida
devemos aceitar
as inúteis apostas de nossos
dias
e nos satisfazer com
o prazer de
deixar tudo
pra trás.

não chore por mim.
não sofra por mim.

leia
o que escrevi e
então
esqueça
tudo.

beba do poço
de você mesmo
e comece
de novo.

Crônica de um amor moribundo

" Infelizmente eu tenho que escolher entre a doença e vc. Foi muito dificil tomar essa decisão. Mas vc tem o direito de achar alguém que corresponda com teus anseios, e essa pessoa não sou eu. Te amo mas não dá. Me perdoe e obrigada."
Assim terminou, num torpedo via celular, a minha relação de três anos com a Mônica.
Voltando no tempo.
Quando a conheci, a nova funcionária trabalhando na secretaria da escola, era uma mulher com corpo de menina, magrinha, seios pequenos, parecia uma adolescente e isso me atraiu.
Conhecendo-a melhor descobri, além da aparência, uma mulher inteligente, vigorosa, disposta e ativa. Gostava de festas, era parceira pra tudo.
Sua história de vida é cheia de percalços, dificuldades e traumas. Na infância uma queimadura enorme cobrindo a metade do seu peito, adulta é abandonada pelo companheiro grávida do segundo filho. Tem dificuldades para criar os filhos, os pais (principalmente a mãe) interferem criando dificuldades adicionais. A diretora da escola particular onde trabalhava adoece gravemente, ela assume toda a responsabilidade de mantê-la funcionando. O pai hipertenso, é internado várias vezes, ela cuida dele sózinha no hospital por vários dias, até sem comer. A filha adolescente engravida e sai de casa, o filho é meio revoltado.
Toda essa carga emocional ela estava segurando a muito tempo, um dia iria explodir de alguma forma. Quando ela veio morar comigo, sentindo-se segura, se permitiu relaxar.
Aí aconteceu.
Sindrome do pânico, depressão, apatia. Ela foi ao fundo do poço.
Eu assustado e sem entender direito o que acontecia tentava ajudar, sem sucesso.
O amor que era incipiente sofre essa carga destrutiva e vai sufocando lentamente, finalmente num desentendimento com o filho e eu, ela acaba saindo, a meu pedido, da minha casa.
A doença se agrava, é internada para tratamento com acompanhamento psiquiátrico, acompanho visitando-a diáriamente. Ao final de dez dias tem alta, aparentemente melhor, mas dois dias depois todos os sintomas estão de volta.
Ainda tentamos reviver a relação, mas não aconteceu e o triste desfecho veio em forma de torpedo.
De tudo, ficam os bons momentos, os bailes, as viagens, as pescarias, os momentos de carinho.
Sei que ela vai se recuperar, um processo demorado com certeza, mas vai acontecer a reconstrução, e quero ter o prazer de vê-la sair dessa!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pacu Grande

Neste feriado, pra driblar a tendência de ficar sozinho, liguei pro mano e o convidei pra almoçar aqui, convidei-os pra comer peixe assado pois tinha dois de bom tamanho guardados no freezer, uma carpa hungara e um pacu grande.
Esses peixes estavam reservados pra tia Nara, mas ela não veio, depois iam ser comidos pelos meus colegas de serviço, também mixou na última hora e como eu já tinha descongelado e o mano tinha ligado avisando que viera do Paraguai pensei, é agora que eles vão.
Essa história do pacu grande, pacu pequeno, aconteceu na escola; algum gozador, logo que começaram aparecer esses peixes por aqui e ninguém conhecia direito colocou uma caixa na sala dos professores com um cartaz;: "Pacu Grande e Pacu Pequeno, não mexa!". A caixa tinha uns furos em cima de forma que todas as profes curiosas não resistiam e iam espiar, olhavam, davam risadinhas e saiam de fininho sem comentar nada. Por fim todos espiaram. Dentro da caixa dois rolos de papel higiênico, um normal (pacu pequeno) e um rolão (pacu grande). Hehehehehe
Essa pegadinha me fez lembrar de outra que apliquei numa profe de biologia, perguntei a ela: na hipótese de que fosse possível cruzar um quero-quero com um pica-pau qual seria o nome dos fillhotinhos? A mulherada na sala dos profes começaram a cochichar entre elas e a rir e a indagada, ficou vermelha e, por fim, declarou que não sabia como iam se chamar os bichinhos. Hehehehehehe
Outra vez eu ia passando no corredor da escola e vi uma profe de química que eu não ia muito com a cara dela, entrei na sala de supetão, escrevi no quadro CHOPP e perguntei pra ela que substância era aquela e saí de fininho. Eram alunos do curso técnico, na saída pisquei o olho pra eles. Depois os alunos me contaram, a profe embatucou, ficou analisando e repetindo, C carbono, H hidrogênio, O oxigênio, P fósforo duas vezes, por uns dez minutos, até que ela se afastou do quadro e decifrou a charada! Levei um pito dela na sala dos profes! Hehehehehe
Voltando ao almoço, feriado bonito de sol, o Paulo levou os velhinhos no cemitério pra visitar nossos falecidos e depois vieram pra cá.
Sentamos na sombra da bergamoteira, chimarrão, a Marlene pediu uma caipira, mostrei os ingredientes e ela preparou,eu, ela e o pai bebemos, o Paulo tomando cerveja. Quando o almoço ficou pronto abri um vinho pra seu José e tomei junto. Dos peixes só sobraram as espinhas, acredito que estava bom pois era quase 5kg de peixe. Depois do almoço acompanhei o Paulo na cerveja e, quando eles foram embora eu já estava bem tontinho da misturança. Deitei e dormi até as 19:30h.
Agora já estamos combinados, a Marlene vai comprar um peixe para eu fazer à escabeche.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O suicida

Estava desempregado, as ex-mulheres apertando na cobrança das pensões. Época de crise braba no Brasil, só conseguia bicos e muito raros.
Com o dinheiro da indenização havia comprado uma casa numa cidade dormitório, ao lado da capital.
Vendi o carro e fiz reformas para ter um minimo de conforto.
A mulher se desdobrava nas costuras da malharia.
Asim ia empurrando com a barriga, a vidinha sem horizonte.
Alguém compra o terrreno ao lado e rápidamente constroi uma casinha com material usado.
Kiko, Rosane e um filho pequeno. Muito jovens, fugiram da colônia para se casar.
Ele um alemãozinho mirrado, ex-colono, ex-funcionario do Banco do Brasil, à época empreiteiro de obras (pedreiro). Foi demitido do banco porquê dava empréstimos aos colonos sem verificar a capacidade de pagar, com a inadimplência aumentando dia a dia, perdeu o emprego.
Ela uma loura alta e (muito) bonita, apesar da pouca instrução, chamavam-na de Xuxa pela semelhança.
O dinheiro andava curto pra eles também; a solução foi Xuxa ir trabalhar. Conseguiu um emprego de faxineira em uma grande indústria, a vida deles melhorou um pouquinho.
Com o tempo fizemos amizade, Kiko e Xuxa eram legais, o filho educadinho, ambas as famílias arribadas ali naquele lugar, sem raízes muito fundas, éramos semelhantes.
Então começaram os problemas. Kiko já bebia consideravelmente.
Xuxa destoava das demais companheiras de faxina, era bonita demais, isso chamou a atenção das chefias e também de todos os operários da fábrica.
As cantadas eram diárias. Apesar da fidelidade ao marido, tamanho assédio acabou mexendo com seu ego. Descobriu que tinha um poder em suas mãos, começou a se arrumar melhor, usar perfume, se pintar.
Kiko intuiu que estava correndo riscos, porém, encurralado pela situação financeira, não podia exigir que ela abandonasse o emprego, começou a ter crises de ciúme.
Levava-a até a parada do ônibus, esperava-a no retorno e via os olhares e ouvia as piadinhas e assovios.
Cobrava-a, ela jurava inocência, dizia não ligar para as insinuações dos homens e nem dar trela à eles. Kiko torturava-se, contorcia-se, agonizava, morria e renascia para morrer de novo, estava enlouquecendo tamanho o ciúme. Tinha dúvidas atrozes, desconfiava, via indícios de perfídia nos menores gestos dela. E ela negando.
As bebedeiras recrudesceram, batia nela, batia no filho, depois chorava e pedia perdão.
Ela chorava, porém permanecia fiel, compreendia o medo dele, mas nada podia fazer.
Então chegaram as festas de fim de ano. Ela diz que não aguenta mais as bebedeiras dele, ameaça, se ele não parar, ela vai acabar abandonando-o.
Véspera de Natal, Kiko bebe o dia inteiro. À noite espanca a mulher e o filho, expulsa-os de casa ameaçando matá-los, ninguém vê ou ouve nada.
Dia de Natal, ao sair para o pátio vemos Kiko preparando um churrasco, desejamos boas festas, ele me chama pra tomar chimarrão. Ao chegar na varanda noto duas coisas estranhas, as mãos dele estão inchadíssimas e as pupilas estão tão pequenas que quase não se vêem. Pergunto das mãos ele explica que brigou com a mulher e filho, e os pôs pra fora de casa. Diz que está desconfiando dela e que não sabe o que pode acontecer.
Tomo alguns mates e peço licença, antes de ir Kiko me faz provar o churrasco.
O dia todo Kiko toca músicas de fossa, de dor de corno, no mais alto volume do som.
São 9h da noite, a vizinha do outro lado da casa do Kiko me chama, ouviu gritos desesperados na casa dele e agora o silêncio é sepulcral, a casa permanece aberta, ela teme que algo muito grave tenha acontecido, pede para eu ver, pois sou amigo dele.
Dirijo-me à casa, junto com minha mulher. Entramos, acendemos as luzes, chamamos. Silêncio.
Olhamos nos quartos. Ninguém. O banheiro está trancado. Tenho um pressentimento, digo que vou procurar ajuda, minha mulher pergunta se estou com medo, ele deve estar bêbado, caido no banheiro, que eu abra logo a porta. Digo que não, que vou procurar ajuda.
Consigo que outro vizinho venha comigo. Ao entrarmos na casa avisto a carta sobre a mesa.
Leio, despede-se, pede perdão pela covardia, distribui os bens, faz recomendações sobre cobranças e pagamentos, dedica as flores do jardim para a esposa, determina a doação de seus órgãos, se for possível. Agora tenho certeza, digo ao vizinho que vou arrombar a porta do banheiro, ele concorda, pedalo a porta ao melhor estilo policial....
A porta bate no corpo pendurado, ele fica balançando, para lá e para cá, para lá e para cá....
Todos saem correndo e gritando porta a fora, eu fico, o vizinho volta a medo e me observa, contorno o corpo, com as costas dos dedos ( para não deixar digitais) verifico a pulsação: inexistente, está morto.
Olho seu rosto, crispado pela agonia. Suas mãos estão atadas com arame, a cadeira onde subiu caída.
Chamamos a polícia militar, eles vem rápido, eu e o vizinho somos detidos para averiguação, o cabo diz que não foi suicídio porquê as mãos estão amarradas, mostro-lhe a carta. Tenho medo de ser acusado de matá-lo. Somos interrogados, os depoimentos coincidem. Aguardamos a perícia que demora uma eternidade, quando vem, aliviados vemos a confirmação do suicídio e somos liberados.
Tenho pesadelos por um mês, com o Kiko enforcado.
Xuxa abandona a casa e vai morar com os pais em outro bairro. Alguns meses depois vem nos visitar.
Conta-nos que o advogado da empresa, um senhor de certa idade, tomou-a como sua protegida, deu-lhe um banho de loja, está fazendo-a estudar, diz que sua vida melhorou....

Encontro (ficção)

Ele recebeu o telefonema quando estava de saída do trabalho, estacionou o carro e atendeu.
- Alô!
- Oi, aqui é Priscila, o convite ainda tá de pé?
- Sim, onde nos encontramos?
- Não sei, que vc sugere?
- Barzinho de universitários, pode ser?
- Tá bom, me espere próximo ao Pastelão Universitário, então.
- OK, tô indo!
Desligou o celular, engrenou a marcha e dirigiu-se para a zona dos barzinhos, próxima à faculdade.
Estacionou, e quando se preparava pra descer do carro, vê a luz de ré acender no carro da frente, sente que o carro não vai parar, buzina no momento em que o carro bate no seu.
Depois do tranco, vê que o carro da frente começa a se movimentar pra ir embora.
Desce correndo para impedir a fuga, é uma garota, jovem universitária e um acompanhante, que ao ver-se bloqueada, desliga o carro e desce pra ver o prejuízo.
Olham; nada quebrado, nada amassado, libera a fujona.
Pensa, a noite não começou bem.
Alguns minutos depois, Priscila chega.
Dirige-se ao carro dela.
- Oi, e então?
Ela desce.
- Sabes que sou casada, acho que seria perigoso irmos a um barzinho desses em plena sexta-feira. Alguém pode nos ver e os comentários irão começar.
- Tudo bem, se queres discrição o lugar mais discreto que conheço é minha casa, fica num bairro distante e longe de ruas movimentadas, pode ser?
Pequena hesitação.
-Tá...
- Então me segue.
Depois de chegarem, o comentário.
- Mas tu te esconde, hein?
- É verdade! Olha eu não tenho cerveja, mas tenho vinho chileno, serve?
Pequena azáfama: pegar taças, abridor, escolher o vinho, abrir e servir.
Conversam.
Sentam-se na sala. Bebem em pequenos goles, o vinho é bom.
Ele conta um pouco da sua rotina de homem que mora sózinho, ela conta sua rotina de mulher casada com um homem que é alcoolatra e já não tem serventia nenhuma.
Ela fica um pouco triste, ele abraça seus ombros confortando-a.
Ela confessa que não faz sexo a mais de um ano. Beijam-se, olham-se nos olhos, as palavras já não são necessárias.
Ele levanta e estende a mão e a conduz para o quarto, beijam-se novamente.
Despem-se rápidamente, um tanto constrangidos pela falta de intimidade.
Ele a olha, ela é alta, os cabelos curtos de um louro acobreado, os olhos verdes, está acima do peso mas mantém as curvas nos lugares certos.
Deitam-se e fazem amor, já nos primeiros movimentos ela estremece em orgasmo, tem três, um atrás do outro.
Depois, relaxada e sorridente ela despede-se.
- Eu te ligo sempre que me der essas ganas.
Provavelmente não irá ligar.